- Acorde para a verdade,
Vitalino! Acorde e viva!... Acorde e viva!...
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O BICO DE GÁS
Naquela noite Vitalino discutira muito.
Acaloradamente. Opondo-se aos argumentos de dois amigos, combatia a fé.
Acreditava somente no que visse. Estudara profundamente a anatomia e precisava
apalpar para crer. Necessitava sentir, ouvir, cheirar,
analisar... Por isso
mesmo, estava contrariado ao recolher-se. A esposa demorou-se ainda um tanto em luta pela ordem no
apartamento estreito. Acomodava os filhinhos, atendia aos afazeres da
casa. Mas, mesmo depois
que Da. Constância passou a ressonar, Vitalino prosseguia em solilóquio
mental. Não mudaria. Era
homem prático. Só renderia à evidência dos fatos. Queria fatos. Mais fatos. Mais
fatos para compreender os fatos. Algo cansado, acabou
dormindo. Dormiu e
sonhou que se achava diante de Rosalino, seu velho irmão desencarnado havia
muitos anos...
* * *
Rosalino dizia
convincente: - Meu caro,
ouvimos-lhe as considerações silenciosas. Realmente, as provas de sobrevivência, muitas vezes, são
difíceis. Mas, essa circunstância, só por só, não lhe autoriza
negá-la. Veja
bem. Existe a fé
automática, inconsciente, sem comprovação. É a aceitação dos acontecimentos
naturais, sem a ajuda dos sentidos. Em quanta coisa você confia inteiramente sem proceder a
qualquer exame! Você não
examina a competência do motorista, mas viaja no veículo
despreocupadamente... Você não testa a resistência do leito, cada noite, mas
deita e dorme tranquilo... Você não vê os ingredientes que lhe compõem a refeição,
mas como sem medo... Você não experimente a segurança da casa bancária, mas
confia-lhe os bens sem titubear... Por outro lado, inúmeras ocorrências perspassam-lhe na
vida sem merecer de sua parte estudo mais
acurado. Você não apalpa
o ar, mas respira o oxigênio sem susto... Você não vê o vírus, mas sofre a
gripe... Você não escuta
muitas das ondas sonoras que se entrecruzam à sua volta, mas ouve satisfeito os
programas radiofônicos... Você não mediu o Universo, metro a metro, mas reconhece o
infinito da Criação... Você não morreu ainda, mas aceita a fatalidade do
fenômeno da morte... Igualmente, meu amigo, você diz que não vê e não pega o
Mundo Espiritual, mas.....ele....existe...
Acorde para a verdade!
Acorde e viva!
Acorde e viva!
* * *
Como se impulsionado por estranha força, Vitalino
despertou no corpo físico. O ambiente pesava. Fazia-se o ar irrespirável. Algo
sucedera de estranho... Levantou-se estremunhado. Procurou o berço das duas
crianças. Ambas desacordadas. Aflito, abre maquinalmente a janela próxima e faz
luz. Somente aí descobre
que a esposa, distraída, deixara aberta a torneira do
gás. A família
salvara-se a tempo. E,
passado o perigo, tomou papel e lápis, escreveu todas as considerações que
ouvira em sonho, e começou a meditar...
(Do livro "A Vida Escreve", pelo Espírito Hilário Silva,
Francisco Cândido Xavier e Waldo
Vieira)
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